É tempo de emagrecer

Emagrecer facilmente é o desejo de muitas pessoas. Mas essa é uma tentação perigosa. Muitos querem ainda ter uma alimentação mais saudável. Estes desejos surgem com muita frequência após épocas festivas como as que acabaram de ser celebradas. Apesar de ser um fenómeno cíclico, a maioria das pessoas considera a perda de peso uma coisa boa, para o corpo e para a mente.“A dieta funciona e a recompensa é enorme”, afirma a psicóloga americana Rena Wing. A cientista da Brown University, em Boston, sabe do que fala. Ela detém a maior base de dados sobre pessoas com obesidade que conseguiram emagrecer e manter o peso baixo. Ao longo dos anos, seis mil pessoas em luta contra os quilos a mais inscreveram-se no registo nacional de controlo de peso. A psicóloga descobriu o segredo por detrás do seu sucesso com a ajuda de questionários. As respostas são uma receita de sucesso, tanto para nutricionistas como pessoas em dieta.

Agora a investigadora deparou-se com sinais de que o cérebro das pessoas obesas também tem a capacidade de reaprender a pensar como o das pessoas magras, uma vez que os padrões de comportamento alimentar podem ser alterados. Rena Wing diz, em tom de encorajamento, que a maioria dos seus pacientes necessitaram de várias tentativas até terem conseguido baixar e manter o peso.
“85 por cento de todas as tentativas de emagrecer fracassam”, diz Hans Hauner, do Centro de Medicina Nutricional da Universidade Técnica de Munique.
Todos os que já tentaram queimar os quilos a mais com exercício conhecem a sensação de estarem perante um tremendo obstáculo. Quem quiser mudar de estilo de vida, precisa de apoio. E quanto mais próximo  e pessoal, melhor. Esse é um dos segredos do sucesso, tal como já  foi demonstrado por vários estudos.

“Começar uma dieta para emagrecer não é só um desafio para o corpo, é também um desafio psicológico e acima de tudo emocional”, explica o nutricionista Alexandre Fernandes.

“Poderia enumerar as razões pelas quais muitas pessoas não resistem mais do que algumas semanas numa dieta, mas a principal razão é a falta de motivação associada a uma monotonia alimentar. A desistência ou o fracasso do emagrecimento acontece porque as pessoas procuram incansavelmente por alternativas rápidas e fáceis, que nem sempre são mais recomendadas. Emagrecer pode levar algum tempo e para que a reeducação do estilo de vida seja sustentado no tempo é necessário motivação, disciplina, objetivos realistas, perseverança e muita paciência. Ser flexível e estar disposto a experimentar coisas novas e mudar hábitos antigos é essencial para o sucesso.”
Até há pouco tempo, o processo de emagrecimento era, para a maioria das pessoas, solitário e penoso. Isto no caso de não haver dinheiro para pagar quantias avultadas a um personal trainer e a um nutricionista para seguir lado a lado o caminho da luta contra os quilos a mais. Mas até aqui a evolução tecnológica veio mexer.
Através dos smartphones e da Internet estão a surgir novas formas de apoio para quem quer perder peso e manter um estilo de vida saudável.

 

A nova tendência já é apelidada  de e-health: a saúde eletrónica. Os programas online lançados no início de 2011, como o Lean-and-Healthy e o HausMed, prometem uma redução do peso sob vigilância especializada a um preço acessível. Quem se inscrever, terá de responder a um questionário online relativamente aos seus hábitos alimentares, tamanho e altura, peso e doenças que já tenha tido. Por fim o programa cria uma diretriz a explicar ao participante como comer de forma mais saudável e a quantidade e intensidade do desporto que deve praticar. Semanalmente, cada participante recebe um plano novo criado segundo os “princípios testados da terapia cognitiva comportamental”, como se pode ler no HausMed.

Joachim Westenhôfer já tem alguma experiência com este tipo de abordagem na luta contra a obesidade. O psicólogo nutricionista, da Escola Superior de Ciências Aplicadas de Hamburgo, desenvolveu o programa Lean-and-Healthy. Agora trabalha diretamente com o programa, tendo inclusivamente fundado uma empresa para gerir todo o projeto. O seu conceito de acompanhamento à distância é uma das aplicações de maior sucesso no mercado online. Nele, 33 por cento dos participantes mantêm-se ligados ao programa durante todo o processo de taxa de perda de peso. Os homens perdem em média sete quilos num ano e as mulheres perdem seis.

A taxa de sucesso é assim comparável à de outros programas de emagrecimento que não operam via lnternet. Todavia, “os métodos com base no contacto pessoal” têm mais sucesso, admite Westenhõfer, uma vez que “o contacto social continua a ser a melhor garantia de mudança de comportamento”, particularmente quando são tão profundas como uma mudança nos hábitos alimentares.

 

Mas hoje a variante onlíne não só faz sentido como o faz cada vez mais. Se as diretrizes forem respeitadas à letra, pode funcionar melhor do que qualquer livro de dieta, ao permitir um acompanhamento passo a passo para o estilo de vida de cada pessoa. “Emagrecer não é o mais importante para nós”, explica Alexander von Bethmann, da HausMed, “queremos que os participantes mudem comportamentos”. As dietas pela Internet permitem ainda o contacto entre pessoas obesas, que nunca teriam confiança e à-vontade para participar em sessões de grupo. Com os programas online, a percentagem de participantes masculinos aumentou até 25 por cento”, conta Joachim Westenhõfer. “Na variante clássica, rondam apenas os 10 por cento dos participantes totais”.
Alexandre Fernandes chama a atenção para o cuidado que é necessário ter relativamente à informação que circula na lnternet, porque é muita, sendo sempre necessário fazer uma triagem. E muito importante analisar “a credibilidade do que está escrito, de quem a escreveu e a quem se destina”, porque “sites e blogs na internet existem muitos com as mais variadas dietas, que podem ir desde a dieta de um só alimento até às dietas personalizadas. A capacidade de filtragem que a pessoa tem vai depender de inúmeros fatores, por exemplo, económicos, da autoestima, dos conhecimentos que a pessoa tem sobre nutrição e alimentação, do estado de saúde e da capacidade de ser mais ou menos influenciável”.

Contudo, o nutricionista não nega alguma utilidade à informação veiculada na lnternet,
com uma ou outra ressalva. “E se a informação for credível e segura, o que fazer? Nestas situações acho que é muito positivo a leitura desses conteúdos informativos. Porque aprende-se, podendo melhorar desta forma os hábitos alimentares. Digo podendo melhorar’ porque nem sempre as ementas são adequadas à realidade portuguesa. Esta é uma das desvantagens que eu aponto.”
A psiquiatra americana Rena Wing, diretora do Centro de Controlo de Peso e do Centro de Investigação da Diabetes, é a investigadora principal do Minam Hospital, que coordena um estudo sobre a perda de peso. Ela conhece milhares de casos de sucesso. Cerca de 50 por cento dos participantes no estudo conseguiram emagrecer e manter o peso baixo sem qualquer tipo de ajuda. A outra metade recorreu a vários métodos.
A essência da enorme base de dados do Minam Hospital: a manutenção do peso custa imensa energia e uma disciplina férrea. Rena Wing foi surpreendida pela tendência dos antigos obesos para a prática de jogging. Em média, passaram a percorrer sete quilómetros por dia. Um em cada 10 participantes começou a praticar outro tipo de desporto. No entanto, apenas um em cada 10 conseguiu manter o seu peso sem qualquer tipo de prática desportiva. “Verificámos que
os programas de emagrecimento exigem muito pouca atividade corporal aos participantes”, diz Wing, exigindo ainda uma mudança na forma de pensar.

 

A psiquiatra foi ainda obrigada a admitir que a investigação científica através de um inquérito tem os seus limites, porque os participantes têm a tendência para exagerar as suas capacidades, quando na realidade são menos ativos do que afirmam.

A tendência para se iludirem a si próprios explica ainda por que motivo os especialistas em nutrição registaram um consumo médio de 1400 calorias por dia, o que é pouco realista, particularmente a longo prazo.
A maioria dos participantes do estudo americano mudaram a sua alimentação para uma dieta pobre em gordura. As formas extremas, como a dieta de Atkins, rica em carne, foram escolhidas por apenas um em cada 100 participantes. Hans Hauner considera este tipo de dietas até arriscadas, devido à sobrecarga nos rins pelo alto consumo de proteínas.

Ele aconselha aos seus pacientes uma dieta pobre em gordura, mas que também aceite outros conceitos alimentares. “O principal objetivo é reduzir as calorias e evitar extremismos”, diz Hauner. Então os pacientes habituam-se à sua nova alimentação e contornam o efeito ioiô.

O dilema é que as pessoas com peso a mais querem perdê-lo o mais depressa possível”, diz Hauner, “e é quase impossível convencê-los do contrário”. A forma mais saudável mas mais lenta de dieta é a seguinte, segundo a sua perspetiva: uma redução de 500 quilocalorias por dia traduz-se na perda de meio quilo por semana. Mas é preciso alguns cuidados na contagem de calorias. Quem quer mesmo emagrecer, observaram os cientistas, deve reduzir a quantidade de energia consumida para metade. Deve abdicar-se principalmente dos pequenos snacks. “O objetivo de todos os esforços deve ser encontrar um conceito adequado a cada indivíduo”, diz Hauner. Apenas as experiências que estimulam o mecanismo de recompensa do cérebro conseguem fazer com que este altere o seu padrão comportamental.

 

O emagrecimento começa na cabeça. No Instituto Max Planck de Investigação Cognitiva de Leipzig, na Alemanha, os cientistas observam ao vivo, através de imagens de tomografia axial computorizada (TAC), como funciona o cérebro de pessoas com peso a mais. Eles colocam os participantes do estudo no aparelho e mostram-lhes fotografias de doces ou legumes. Na sala ao lado, os cientistas registam a atividade cerebral correspondente. As zonas ligadas ao sistema de recompensa de pessoas com obesidade sofrem um sobrestímulo durante vários anos, o que altera a suas estruturas, à semelhança do que acontece com os alcoólicos”, explica Amo Viliringer. O prazer pode ser treinado tal como um músculo, através da modulação comportamental ou com bio-feedback, com o qual a pessoa aprende a influenciar a sua atividade cerebral. Acredito que a hipersensibilidade do sistema de recompensa é reversível”, diz Villringer.

Os seus colegas americanos publicaram as primeiras imagens que comprovam tais esperanças. Quando os cientistas fizeram a TAC a algumas participantes do estudo de Rena Wing e lhes mostraram fotografias de gelados ou de batatas fritas, ficaram surpreendidos com os resultados: o cérebro das pessoas que tinham feito dieta conseguia controlar os estímulos alimentares de forma mais eficiente do que as pessoas de peso normal. Elas tinham aprendido a “pensar magro”.

“O controlo sobre o consumo de calorias é extremamente difícil, porque o nosso organismo não se preparou para o excesso de alimentos ao longo da sua evolução”, diz Westenhifer. Os nossos genes encaram a a sobrenutrição como uma estratégia de sobrevivência. Se não fosse assim, a raça humana teria ficado extinta na savana africana, há três milhões de anos.

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É tempo de emagrecer

Emagrecer facilmente é o desejo de muitas pessoas. Mas essa é uma tentação perigosa. Muitos querem ainda ter uma alimentação mais saudável. Estes desejos surgem com muita frequência após épocas festivas como as que acabaram de ser celebradas. Apesar de ser um fenómeno cíclico, a maioria das pessoas considera a perda de peso uma coisa boa, para o corpo e para a mente.“A dieta funciona e a recompensa é enorme”, afirma a psicóloga americana Rena Wing. A cientista da Brown University, em Boston, sabe do que fala. Ela detém a maior base de dados sobre pessoas com obesidade que conseguiram emagrecer e manter o peso baixo. Ao longo dos anos, seis mil pessoas em luta contra os quilos a mais inscreveram-se no registo nacional de controlo de peso. A psicóloga descobriu o segredo por detrás do seu sucesso com a ajuda de questionários. As respostas são uma receita de sucesso, tanto para nutricionistas como pessoas em dieta.

Agora a investigadora deparou-se com sinais de que o cérebro das pessoas obesas também tem a capacidade de reaprender a pensar como o das pessoas magras, uma vez que os padrões de comportamento alimentar podem ser alterados. Rena Wing diz, em tom de encorajamento, que a maioria dos seus pacientes necessitaram de várias tentativas até terem conseguido baixar e manter o peso.
“85 por cento de todas as tentativas de emagrecer fracassam”, diz Hans Hauner, do Centro de Medicina Nutricional da Universidade Técnica de Munique.
Todos os que já tentaram queimar os quilos a mais com exercício conhecem a sensação de estarem perante um tremendo obstáculo. Quem quiser mudar de estilo de vida, precisa de apoio. E quanto mais próximo  e pessoal, melhor. Esse é um dos segredos do sucesso, tal como já  foi demonstrado por vários estudos.

“Começar uma dieta para emagrecer não é só um desafio para o corpo, é também um desafio psicológico e acima de tudo emocional”, explica o nutricionista Alexandre Fernandes.

“Poderia enumerar as razões pelas quais muitas pessoas não resistem mais do que algumas semanas numa dieta, mas a principal razão é a falta de motivação associada a uma monotonia alimentar. A desistência ou o fracasso do emagrecimento acontece porque as pessoas procuram incansavelmente por alternativas rápidas e fáceis, que nem sempre são mais recomendadas. Emagrecer pode levar algum tempo e para que a reeducação do estilo de vida seja sustentado no tempo é necessário motivação, disciplina, objetivos realistas, perseverança e muita paciência. Ser flexível e estar disposto a experimentar coisas novas e mudar hábitos antigos é essencial para o sucesso.”
Até há pouco tempo, o processo de emagrecimento era, para a maioria das pessoas, solitário e penoso. Isto no caso de não haver dinheiro para pagar quantias avultadas a um personal trainer e a um nutricionista para seguir lado a lado o caminho da luta contra os quilos a mais. Mas até aqui a evolução tecnológica veio mexer.
Através dos smartphones e da Internet estão a surgir novas formas de apoio para quem quer perder peso e manter um estilo de vida saudável.

 

A nova tendência já é apelidada  de e-health: a saúde eletrónica. Os programas online lançados no início de 2011, como o Lean-and-Healthy e o HausMed, prometem uma redução do peso sob vigilância especializada a um preço acessível. Quem se inscrever, terá de responder a um questionário online relativamente aos seus hábitos alimentares, tamanho e altura, peso e doenças que já tenha tido. Por fim o programa cria uma diretriz a explicar ao participante como comer de forma mais saudável e a quantidade e intensidade do desporto que deve praticar. Semanalmente, cada participante recebe um plano novo criado segundo os “princípios testados da terapia cognitiva comportamental”, como se pode ler no HausMed.

Joachim Westenhôfer já tem alguma experiência com este tipo de abordagem na luta contra a obesidade. O psicólogo nutricionista, da Escola Superior de Ciências Aplicadas de Hamburgo, desenvolveu o programa Lean-and-Healthy. Agora trabalha diretamente com o programa, tendo inclusivamente fundado uma empresa para gerir todo o projeto. O seu conceito de acompanhamento à distância é uma das aplicações de maior sucesso no mercado online. Nele, 33 por cento dos participantes mantêm-se ligados ao programa durante todo o processo de taxa de perda de peso. Os homens perdem em média sete quilos num ano e as mulheres perdem seis.

A taxa de sucesso é assim comparável à de outros programas de emagrecimento que não operam via lnternet. Todavia, “os métodos com base no contacto pessoal” têm mais sucesso, admite Westenhõfer, uma vez que “o contacto social continua a ser a melhor garantia de mudança de comportamento”, particularmente quando são tão profundas como uma mudança nos hábitos alimentares.

 

Mas hoje a variante onlíne não só faz sentido como o faz cada vez mais. Se as diretrizes forem respeitadas à letra, pode funcionar melhor do que qualquer livro de dieta, ao permitir um acompanhamento passo a passo para o estilo de vida de cada pessoa. “Emagrecer não é o mais importante para nós”, explica Alexander von Bethmann, da HausMed, “queremos que os participantes mudem comportamentos”. As dietas pela Internet permitem ainda o contacto entre pessoas obesas, que nunca teriam confiança e à-vontade para participar em sessões de grupo. Com os programas online, a percentagem de participantes masculinos aumentou até 25 por cento”, conta Joachim Westenhõfer. “Na variante clássica, rondam apenas os 10 por cento dos participantes totais”.
Alexandre Fernandes chama a atenção para o cuidado que é necessário ter relativamente à informação que circula na lnternet, porque é muita, sendo sempre necessário fazer uma triagem. E muito importante analisar “a credibilidade do que está escrito, de quem a escreveu e a quem se destina”, porque “sites e blogs na internet existem muitos com as mais variadas dietas, que podem ir desde a dieta de um só alimento até às dietas personalizadas. A capacidade de filtragem que a pessoa tem vai depender de inúmeros fatores, por exemplo, económicos, da autoestima, dos conhecimentos que a pessoa tem sobre nutrição e alimentação, do estado de saúde e da capacidade de ser mais ou menos influenciável”.

Contudo, o nutricionista não nega alguma utilidade à informação veiculada na lnternet,
com uma ou outra ressalva. “E se a informação for credível e segura, o que fazer? Nestas situações acho que é muito positivo a leitura desses conteúdos informativos. Porque aprende-se, podendo melhorar desta forma os hábitos alimentares. Digo podendo melhorar’ porque nem sempre as ementas são adequadas à realidade portuguesa. Esta é uma das desvantagens que eu aponto.”
A psiquiatra americana Rena Wing, diretora do Centro de Controlo de Peso e do Centro de Investigação da Diabetes, é a investigadora principal do Minam Hospital, que coordena um estudo sobre a perda de peso. Ela conhece milhares de casos de sucesso. Cerca de 50 por cento dos participantes no estudo conseguiram emagrecer e manter o peso baixo sem qualquer tipo de ajuda. A outra metade recorreu a vários métodos.
A essência da enorme base de dados do Minam Hospital: a manutenção do peso custa imensa energia e uma disciplina férrea. Rena Wing foi surpreendida pela tendência dos antigos obesos para a prática de jogging. Em média, passaram a percorrer sete quilómetros por dia. Um em cada 10 participantes começou a praticar outro tipo de desporto. No entanto, apenas um em cada 10 conseguiu manter o seu peso sem qualquer tipo de prática desportiva. “Verificámos que
os programas de emagrecimento exigem muito pouca atividade corporal aos participantes”, diz Wing, exigindo ainda uma mudança na forma de pensar.

 

A psiquiatra foi ainda obrigada a admitir que a investigação científica através de um inquérito tem os seus limites, porque os participantes têm a tendência para exagerar as suas capacidades, quando na realidade são menos ativos do que afirmam.

A tendência para se iludirem a si próprios explica ainda por que motivo os especialistas em nutrição registaram um consumo médio de 1400 calorias por dia, o que é pouco realista, particularmente a longo prazo.
A maioria dos participantes do estudo americano mudaram a sua alimentação para uma dieta pobre em gordura. As formas extremas, como a dieta de Atkins, rica em carne, foram escolhidas por apenas um em cada 100 participantes. Hans Hauner considera este tipo de dietas até arriscadas, devido à sobrecarga nos rins pelo alto consumo de proteínas.

Ele aconselha aos seus pacientes uma dieta pobre em gordura, mas que também aceite outros conceitos alimentares. “O principal objetivo é reduzir as calorias e evitar extremismos”, diz Hauner. Então os pacientes habituam-se à sua nova alimentação e contornam o efeito ioiô.

O dilema é que as pessoas com peso a mais querem perdê-lo o mais depressa possível”, diz Hauner, “e é quase impossível convencê-los do contrário”. A forma mais saudável mas mais lenta de dieta é a seguinte, segundo a sua perspetiva: uma redução de 500 quilocalorias por dia traduz-se na perda de meio quilo por semana. Mas é preciso alguns cuidados na contagem de calorias. Quem quer mesmo emagrecer, observaram os cientistas, deve reduzir a quantidade de energia consumida para metade. Deve abdicar-se principalmente dos pequenos snacks. “O objetivo de todos os esforços deve ser encontrar um conceito adequado a cada indivíduo”, diz Hauner. Apenas as experiências que estimulam o mecanismo de recompensa do cérebro conseguem fazer com que este altere o seu padrão comportamental.

 

O emagrecimento começa na cabeça. No Instituto Max Planck de Investigação Cognitiva de Leipzig, na Alemanha, os cientistas observam ao vivo, através de imagens de tomografia axial computorizada (TAC), como funciona o cérebro de pessoas com peso a mais. Eles colocam os participantes do estudo no aparelho e mostram-lhes fotografias de doces ou legumes. Na sala ao lado, os cientistas registam a atividade cerebral correspondente. As zonas ligadas ao sistema de recompensa de pessoas com obesidade sofrem um sobrestímulo durante vários anos, o que altera a suas estruturas, à semelhança do que acontece com os alcoólicos”, explica Amo Viliringer. O prazer pode ser treinado tal como um músculo, através da modulação comportamental ou com bio-feedback, com o qual a pessoa aprende a influenciar a sua atividade cerebral. Acredito que a hipersensibilidade do sistema de recompensa é reversível”, diz Villringer.

Os seus colegas americanos publicaram as primeiras imagens que comprovam tais esperanças. Quando os cientistas fizeram a TAC a algumas participantes do estudo de Rena Wing e lhes mostraram fotografias de gelados ou de batatas fritas, ficaram surpreendidos com os resultados: o cérebro das pessoas que tinham feito dieta conseguia controlar os estímulos alimentares de forma mais eficiente do que as pessoas de peso normal. Elas tinham aprendido a “pensar magro”.

“O controlo sobre o consumo de calorias é extremamente difícil, porque o nosso organismo não se preparou para o excesso de alimentos ao longo da sua evolução”, diz Westenhifer. Os nossos genes encaram a a sobrenutrição como uma estratégia de sobrevivência. Se não fosse assim, a raça humana teria ficado extinta na savana africana, há três milhões de anos.

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