TREINO DA FORÇA, TREINO FUNCIONAL OU WHATEVER (qualquer coisa)?
A primeira necessidade de perceber o que é o treino de força, funcional ou outra nomenclatura que qualquer um lhe atribui é baseada numa proposta de Michael Boyle e Gray Coo. Mais que um preparador físico e um fisioterapeuta, respetivamente, são dois profissionais com uma visão moderna do que é a anatomia do corpo humano aplicada ao treino desportivo.
Michael Boyle fornece um primeiro exemplo, que fundamenta a alternância das metodologias mais tradicionais do treino desportivo: clientes com dor lombar é porque têm fraco abdominal, problemas nos joelhos são provocados pelos estabilizadores e a universalidade dos rotadores da coifa para resolver desequilíbrios na escápula. A verdade é que perante estas resoluções continuamos a ter os mesmos problemas. Então para que continuarmos todos a fazer o mesmo? Teremos que pensar fora da caixa, ler e aprender com os melhores. Nos dias de hoje, o treino funcional passa por colocar alguém em cima de uma plataforma instável, chegando por vezes a parecer um verdadeiro circo, mas treino funcional não é sinónimo de instabilidade.
O treino funcional deverá ser entendido como um processo contínuo, que envolve um conjunto de progressões até chegar ao nível ao máximo de integração (trabalhar em todos os planos de movimento, com instabilidade e resistência externa, por exemplo). O treino é funcional é o uso funcional dos conceitos anatómicos para o treino, em que a técnica do movimento é o fator chave. O treino calisténico deverá ser fundamental para o atleta ter noção do corpo, principalmente em jovens atletas, e se o atleta não conseguir agachar (por exemplo) com o peso do corpo de uma forma perfeita será necessário um conjunto de progressões até chegar ao agachamento nas amplitudes máximas. Um preparador físico canadiano usava uma técnica para valorizar a forma como cada exercício era executado, em que só contabilizava o número de repetições eficazes, assegurando logo a qualidade do movimento.
O exemplo prático até chegar ao agachamento com barra livre deveria ser: agachamento (peso corporal), agachamento na smith machine (em amplitudes mais reduzidas se necessário), agachamento na smith machine em amplitudes máximas, agachamento com barra livre, e finalmente agachar sobre um apoio (com integração sucessiva). Do ponte de vista do treino funcional, chegar aos exercícios sobre um membro inferior é essencial, afinal como é que nos deslocamos no terreno de jogo, como executamos um lançamento na passada ou um remate? Até chegar à instabilidade, aonde muitos treinadores começam, vejam só o longo caminho a percorrer. Aliado a isto, é necessário um conhecimento profundo das dinâmicas da carga e dos conceitos das variantes da força (resistência, potência, velocidade, força-máxima, hipertrofia). Obviamente, que os treinadores do “old-school” ficarão um pouco receosos em relação a esta perspetiva, mas é fundamental otimizar toda a sessão de treino e o trabalho da força deverá deixar de ser encarado como 3 séries de 12 repetições a descansar 1,5 minutos. O programa de desenvolvimento da força baseia-se numa relação estabelecida entre o estímulo e a resposta. O estímulo é a qualidade do treino e a resposta é a qualidade do processo regenerativo.
Em suma, precisamos de atingir um equilíbrio dentro das sessões, pelos diferentes padrões de movimento (empurrar, puxar, agachar e rodar), sempre planeados de uma forma progressiva, e percecionar o corpo em função dos grupos articulares e não apenas do grupo muscular. Deveremos conferir primeiro estabilidade e posteriormente ir integrando o movimento, de modo a promover um desenvolvimento eficaz dos atletas. Esta primeira abordagem ao treino da força fará todo o sentido, para quem trabalha, por exemplo com jovens atletas, dado que à partida em atletas de elite seniores o nível de integração deverá ser o mais elevado se tiverem passado por um contínuo programado e periodizado da metodologia da força. Teremos que ser inovadores e olhar para aqueles programas de treino em jovens atletas, de 10 flexões, 10 burpees, 10 agachamentos e alongamentos estáticos de uma forma extremamente crítica, pois as capacidades condicionais em todos os contextos apresentam um papel decisivo na performance.
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